Dia de Campo demonstra os resultados da iLPF

Os resultados na implantação do sistema integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) na Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), foram demonstrados em Dia de Campo no dia 14 de março. Promovido pela Rede de Fomento em iLPF, o evento contou com a participação de 400 pessoas, entre 10 secretários estaduais de Agricultura, pesquisadores, produtores e profissionais do setor rural.

Entre as autoridades, estiveram presentes o deputado federal Leomar Quintanilha (PMDB/TO), a prefeita municipal de Ipameri, Daniela Carneiro, o diretor do Departamento de Sistemas de Produção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), José Guilherme Leal, além dos presidentes da Federação de Agricultura de Goiás, Associação Brasileira de Agronegócios, Associação Nacional de Defensivos Agrícolas e Sindicato Rural de Ipameri, como também, representantes da Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.

A Rede de Fomento em iLPF foi representada pelos presidentes da John Deere no Brasil, Paulo Hermann, e da Cocamar, Luiz Lourenço, e pelo diretor de novos negócios da Syngenta, Romeu Stanguerlin. O assessor da diretoria executiva da Embrapa, Alexandre Barcellos, representou o diretor-presidente Maurício Lopes. Também participaram do Dia de Campo os chefes-gerais da Embrapa Cerrados, José Roberto Peres, e da Embrapa Arroz e Feijão, Pedro Machado.

Na abertura do evento, a proprietária da fazenda, Marize Porto Costa, relatou a experiência exitosa com os sistemas iLPF, que começaram a ser implantados em 2006, e agradeceu à Embrapa pela parceria. “Esse processo não é fácil, precisa de muita persistência e de muito controle. Mas tive o apoio de muita gente. É um sistema de sustentabilidade econômica, ambiental e social que dá certo”, disse.

O presidente da John Deere no Brasil e da Assembleia da Rede de Fomento em iLPF, Paulo Hermann, também ressaltou a importância da Embrapa no desenvolvimento da agropecuária brasileira. “A Embrapa é a melhor instituição de pesquisa e desenvolvimento no mundo. Não conheço outra instituição que chama a sociedade civil para escolher chefe e discutir plano de pesquisa. Tem uma governança moderna e democrática. O Brasil é o que é hoje porque aprendemos, e a Embrapa foi fundamental nisso, a fazer agricultura nos trópicos”, frisou.

Sobre a Rede de Fomento, Hermann destacou o papel de facilitador na transferência de tecnologias. “Queremos mais empresas envolvidas nesse processo. Empresas que assumam o compromisso de ficar no mínimo cinco anos promovendo a Rede. O nosso papel é de ajudar a transferir as tecnologias, para que essas cheguem o mais rápido às mãos dos produtores”, disse.

O representante da Embrapa, Alexandre Barcellos, afirmou que “esse tipo de parceria é essencial para levar o conhecimento gerado na bancada para o campo. “Essa jornada, que começou pequena, mas com pensamento grande, precisa avançar. E isso se faz aqui, com a participação de pesquisadores, políticos, representantes de classe, empresas e produtores”, acrescentou Barcellos.

Na prática- as estações do Dia de Campo mostraram como ocorrem os sistemas integrados. O gerente da Fazenda Santa Brígida, Anábio Ribeiro, explicou porque a soja é precursora na recuperação de pastagens. “Depois do solo corrigido, a soja viabiliza a recuperação do solo em pastos degradados e ainda é mais produtiva que o milho. Já no primeiro ano é possível fazer o consórcio de braquiária com soja”. Uma das maiores dificuldades no primeiro ano de plantio é a pouca oferta de soja de ciclos precoce e/ou superprecoce.

Segundo o pesquisador Sebastião Pedro, da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), a pesquisa de melhoramento genético já está solucionando este problema. “Estamos lançando materiais específicos para o primeiro ano de plantio, o que permite a implantação do sistema integrado”, afirmou. Dos 281 hectares colhidos na última safra na propriedade, 211 hectares correspondiam a materiais precoces e 70 hectares foram de cultivares superprecoces.

O pesquisador falou sobre três novas cultivares de soja da Embrapa que serão lançados em 2013: a BRS7580 (precoce), que possibilita realizar a integração com lavoura já no primeiro ano; a BRS7980, resistente ao nematoide de cisto, à podridão radicular de fitóftera e a M. javanica; e a BRS 8480, que pode ser utilizada no controle do Pratylenchus brachyurus.

Para facilitar a semeadura no primeiro ano de plantio, principalmente para os pequenos produtores, está em teste a adaptação de uma moto para esta finalidade. “A motossemeadura é uma novidade que deverá estar no mercado em quatro meses e tem a vantagem de ser um equipamento pequeno e barato”, afirmou o pesquisador da Embrapa Cerrados, João Kluthcouski, durante a apresentação do protótipo. A previsão é de que com a moto seja possível semear 50 hectares por dia, com o gasto de 1 litro de gasolina para cada 10 hectares.

Braquiária - Normalmente, o terceiro ano de plantio para a integração lavoura-pecuária é feito com o consórcio de milho e braquiária. Segundo o consultor Roberto Freitas, as duas culturas são semeadas simultaneamente e sem concorrência entre elas. “A braquiária passou a ser cobertura do solo e renda com o boi. Até o ponto de formação do grão do milho, a braquiária terá um bom porte para o pastejo”, destacou. Freitas disse que a Fazenda Santa Brígida conta com culturas agrícolas no verão, e que no inverno dois terços da área agrícola fica coberta com capim, que vai suprir o gado no período extremamente crítico, que são os meses de seca.

O consultor explicou que a braquiária serve ainda como barreira para doenças e na conservação da água no solo. “A braquiária turbina a matéria orgânica e talvez seja o principal componente de fertilidade do sistema”, disse, acrescentando que o plantio em conjunto com a leguminosa guandu-anão é uma forma de aumentar a eficiência da adubação do capim.

Milho – O pesquisador Émerson Borghi, da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO), falou sobre o milho consorciado a forrageiras, destacando que o consórcio é possível em diferentes fases da cultura do grão e depende do objetivo do produtor, assim como a própria escolha da forrageira. Ele também discorreu sobre alternativas de semeadura da braquiária, manejo de herbicidas e a evolução da produtividade de milho na Fazenda Santa Brígida, que de 100 sacas/hectare na safra 2006/2007 subiu para 180 saca/hectares na safra 2011/2012. Na propriedade, toda a área de milho está em consórcio com braquiária (cultivar Marandu).  “Além do incremento anual da produtividade do milho, ainda tem a formação de pasto”, observou.

Borghi também abordou o Sistema Santa Brígida, composto pelo consórcio entre milho, braquiária e guandu-anão. A leguminosa é plantada, a lanço ou em linha, após a emergência do milho, na entrelinha.

Árvores e pecuária – O componente arbóreo foi abordado pelo consultor Wanderley Oliveira, que destacou vantagens de sua introdução no sistema de integração lavoura-pecuária, como conforto animal e reciclagem de nutrientes. “O eucalipto só vem a agregar, desde que se pense na finalidade em função do mercado da região da propriedade. Ele traz benefícios que o produtor não consegue visualizar, como o melhor dreno de água do solo”, afirmou.

Já o consultor William Marchió falou sobre as mudanças no sistema de produção pecuária praticado pela Santa Brígida com o advento da iLPF. “Passamos de cria para recria e engorda. A pastagem vem quase de graça, pois o custo do adubo é aproveitado”, afirmou. O consultor disse que o sistema busca deixar o boi em ponto de confinamento. E apesar de hoje a pecuária estar em terceiro plano em virtude dos preços atraentes dos grãos de milho e de soja, Marchió observa a importância da diversificação das atividades. “O boi pode ser uma ‘embalagem de insumos’ por meio da silagem, quando o milho fica menos interessante (comercialmente)”, explicou.

Novas pesquisas – A pesquisadora Priscila de Oliveira, da Embrapa Cerrados, apresentou o sistema de recuperação de pastagem degradada e manutenção produtiva (Sistema Vacaria), que está em fase de validação. O sistema é indicado especificamente para pastos em grandes declividades e em solos com textura arenosa. Para realizar a dessecação parcial, é preciso adaptar os bicos pulverizadores da máquina semeadora. “A ideia é que, após a dessecação, sejam introduzidos novos indivíduos forrageiros, como leguminosas e milho ou sorgo”, disse.

Outra pesquisa que está sendo desenvolvida na Fazenda Santa Brígida é a do feno tropical.  Para aumentar o teor de proteína no feno, já que a braquiária é fonte apenas de fibra, uma leguminosa (feijão guandu) está sendo adicionada ao processo de produção do feno. Com a mistura (braquiária e guandu), a proteína passou para 18%. O índice fica próximo ao da alfafa, cujo teor de proteína é de 22%, e superior ao da aveia, que tem entre 8% a 12% de proteína. “Essa pesquisa é o começo de uma nova história. O gado não vai sentir falta de alimento na seca”, afirmou o pesquisador João Kluthcouski.

Segundo o mestrando da Universidade Estadual de Goiás Alex da Silva, outra vantagem é a redução de custo na produção do feno. A estimativa do custo por tonelada de matéria seca de feno tropical é de R$ 58,51, enquanto o custo de silagem safrinha é de R$ 122,43 por tonelada de matéria seca. As pesquisas, conforme Silva, ainda avaliarão, entre outros itens, as melhores populações de guandu e o ganho de peso animal.

No dia 15 de março, a Fazenda Santa Brígida sediou um Dia de Campo específico para estudantes. Cerca de 200 alunos de quatro instituições de ensino tiveram a oportunidade de verificar como é possível promover a integração entre lavoura, pecuária e floresta.
 

Texto: Breno Lobato - MTb 9417-MG e Liliane Castelões – MTb 16.613-RJ
Jornalistas da Embrapa Cerrados
breno.lobato@embrapa.br
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(61) 3388-9945/9891

Fotos: Liliane Castelões